Livro compara revitalização em Nova York e na Região da Luz, em São Paulo

Livro compara revitalização em Nova York e na Região da Luz, em São Paulo

O projeto de revitalização da Região da Luz, em São Paulo, padece de um vício de origem: foi formulado sem que se considerassem os usos, as atividades e as pessoas que lá vivem ou trabalham.

A crítica às inúmeras, subsequentes e, de certa forma, mal sucedidas tentativas de revitalização da Luz é feita pela socióloga e publicitária Janaina Maquiaveli Cardoso no livro Cidades em miniatura, que ela lança na próxima terça-feira, dia 14, na Livraria da Vila, em São Paulo. 

No livro, ela faz uma comparação entre a revitalização do Meatpacking District, de Nova York – onde ficavam os armazéns de carne que, até a década de 80, abasteciam a cidade americana – e a da Região da Luz, em São Paulo.

O evento será precedido de debate sobre o tema “Revitalização e intervenções urbanas hiperlocais”, do qual participarão, também, o Coletivo Bijari e o designer Gustavo Santos. 

O livro de Janaina é o resultado de sua tese de doutoramento, cuja pesquisa de campo foi feita em Nova York e em São Paulo. No livro, ela analisa os dois modelos de revitalização.

Entre ambos há, segundo ela, semelhanças, porém, grandes diferenças. Sua crítica é de que, aqui ou nos Estados Unidos, não importando muito de que forma tenha ocorrido, ou sido planejada, a revitalização tende a empobrecer as cidades, pois o que normalmente ocorre é que os novos cenários são sempre menos ricos em microuniversos  urbanos.

Especificamente no caso da Região da Luz, a crítica da autora é de que trata-se de um projeto que visa não só à reconfiguração do espaço urbano, mas também a uma reformulação da economia e dos cenários locais, que, além de não levar em conta os interesses lá existentes, contribuiria para artificializar o cenário de uma parte tão significativa do centro de São Paulo. 

Como exemplo de artificialismo ela cita a intenção de que a Luz se torne um espaço de produção e de consumo de alta cultura, uma ilha cujo entorno permaneceria  marcado por ocupações e também por problemas que, em nada, lembram o que se pretende “vender”ali.

Por isso a revitalização é definida pela autora como “uma coisa fora do lugar”. Prova disso têm sido os inúmeros embargos obtidos pelas associações de moradores e comerciantes durante a última administração municipal, para impedir que o projeto seja implantado. 

Para ela, a revitalização da Região da Luz é uma questão extremamente complexa que vai muito além da implantação de equipamentos culturais, como a Sala de Concertos São Paulo ou, mais recentemente, o Memorial da Resistência.

A crítica de Janaina Maquiaveli Cardoso é de que há um enorme fosso a separar estes espaços da realidade que os cerca, extremamente degradada pelo deslocamento, para outras regiões da cidade, que não o centro, de investimentos e serviços públicos de mais alto padrão e qualidade. É na região da Luz que fica, ainda, a Cracolândia, marcada pela presença de usuários de drogas, que a prefeitura e o governo do Estado, também sem muito sucesso, tentam “eliminar” do cenário urbano. 

Nesse sentido, em vez do “enobrecimento” (ou gentrification, segundo o termo técnico usado por urbanistas, arquitetos e cientistas sociais) artificial do cenário, ela sugere que o poder público opte por um modelo que não artificialize a região, mas leve em conta as características hiperlocais, já que, ao contrário de Nova York, a maioria das iniciativas de revitalização urbana no Brasil é marcada por ações do governo em áreas de dimensões bastante consideráveis, não obedecendo a um longo ciclo de etapas de reocupação e resignificação do espaço urbano, em geral decorrentes umas das outras, como nos casos nova-iorquinos, incluindo o Meatpacking District.  

A necessidade de valorização do hiperlocal também é ressaltada pelo designer Gustavo Santos, um dos participantes do evento. Para ele, o século 21 é o século das cidades. Por isso, segundo Gustavo Santos, é importante que as pessoas passem a ter consciência de seu papel nos processos de revitalização. “Conhecer, entender, vivenciar e participar dos processos de revitalização das hiperlocalidades urbanas é fundamental para termos uma cidade com mais qualidade de vida e mais justa para todos.

Um projeto de revitalização urbana não é mais apenas uma responsabilidade do Estado e sim uma ação e criação coletiva”, afirma Gustavo Santos.

Em termos comparativos, os processos de revitalização do Meatpacking District, em NY, estariam muito mais para a Vila Madalena do que os projetos de revitalização da Região da Luz.

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